AMVERJ aconselha a leitura do texto da colega Tânia Lyra - MA, sobre o tema da "Vaca Louca".
EEB típica e atípica.
Foram descritas várias formas de Encefalopatias Espongiformes Transmissíveis- EET, no homem e nos animais. A primeira descrita em animais ocorreu em 1730, nos ovinos sendo denominada de scrapie. A Encefalopatia Espongiforme Bovina- EEB ou BSE (sigla em inglês) foi descrita em 1986 na Inglaterra, após a alimentação de bovinos com farinhas de carne e osso (FCO), obtidas de ovinos sacrificados no programa de erradicação do scrapie desenvolvido naquele país. Alguns autores consideram que nas rações foram utilizados também FCO preparadas com bovinos mortos e que a doença poderia estar ocorrendo nestes bovinos de forma subclínica.
Assim o maior uso de reciclagem de ovinos e bovinos na ração - FCO na cadeia alimentar fez surgir de forma alarmante a nova patologia e sua disseminação. Existem discussões sobre a origem da EEB, sendo considerada por alguns, como obscura, porem o grande numero de casos descritos na Inglaterra no final da década de 80 induz ao importante papel do canibalismo expressado pela alimentação de ruminantes com proteína de ruminante. O canibalismo e a intensificação da reciclagem de farinha de osso e carne na cadeia alimentar de bovinos no Reino Unido devem ter contribuído também para a disseminação da doença. Os níveis de utilização de FCO no Reino Unido eram bem maiores do que nos outros países. A doença cruzou a primeira barreira da espécie passando dos ovinos para os bovinos por via oral.
Apesar de evidência epidemiológica de cruzamento da barreira de espécie, sendo o homem o ultimo elo desta cadeia, de inicio não foi considerada uma zoonose.
No homem era conhecida uma EET- a Creutzfeldt Jacob Disease- CJD, em pessoas idosas, considerado uma doença degenerativa. Entretanto começaram a ser descritos casos semelhantes em jovens, sendo denominados Variante de Creutzfeldt Jacob Disease- vCJD. O primeiro caso de vCJD foi observado em novembro de 1994 no Reino Unido e já existiam 127 casos confirmados em abril de 2003, com mais sete suspeitos (The UK Creutzfeldt- Jakob Disease Surveillance Unit, 2003). Na França foram observados três casos e na Irlanda, um (WHO). Comparando a vCJD com a CJD tradicional, a primeira afeta pacientes mais jovens, com média de idade de 29 anos, enquanto a outra apresenta média de idade de 65 anos. A vCJD apresenta, duração mais longa
Nos bovinos, atualmente são descritas dois tipos de EEB ou BSE, a clássica ou típica e a atípica. A Encefalopatia Espongiforme Bovina (EEB) denominada em inglês de BSE- Bovine Spongiform Encephalopathy é uma doença do grupo das Encefalopatias Espongiformes Transmissíveis (EET). São doenças que causam degenerações fatais no cérebro do homem e dos animais afetados. O agente da doença é denominado Prion ( proteinaceous infectious particle ou PrP- Prion protein).
A EEB atípica.
A EEB à luz da recente apresentação de forma atípica é uma doença de ocorrência esporádica que passaria despercebida em países onde inexiste um sistema de vigilância ativa. Anteriormente, quando os animais deixavam de ser produtivos (animais idosos) eram enviados para abate ou morriam na exploração. Atualmente nos países que implantaram um bom sistema de vigilância ativa, qualquer animal que morra na propriedade ou que se apresente cambaleante ou morra no transporte para o abate é examinado para pesquisa de EEB.
A OIE considera que as formas atípicas, são formas de encefalopatias que aparecem de modo natural e esporádico en várias espécies de mamíferos, incluindo o homem. A possibilidade de patogenia de formas esporádicas de encefalopatia espongiforme bovina (que se denominam "atípicas" para distinguir das formas que surgem devido à ingestão de rações contaminadas) está sendo investigada cientificamente. Atualmente, a OIE não reconhece a forma atípica de encefalopatia espongiforme bovina como entidade distinta da forma clássica, para efeito de suas normas internacionais, desta forma, não é mencionada no Código Sanitário para os Animais Terrestres da OIE, a forma atípica e, não existe diferença na avaliação do estatus de risco.
No que se refere às notificações de EEB atípica, em 2011, a Suíça relatou que o caso de encefalopatia espongiforme bovina observado era atípico. A doença foi observada num bovino nascido em 2003 (oito anos) diagnosticado no contexto da vigilância de animais encontrados mortos. No mesmo ano, na Holanda e na Polônia, foram descritos casos atípicos (tipo L), em animais idosos.
Em 2012, nos Estados Unidos, o sistema de vigilância especifico para EEB, identificou uma vaca com a idade de 10 anos e sete meses, que mancava e foi sacrificada. O episodio foi notificado como um caso atípico de EEB. No mesmo ano, a Espanha identificou três casos de EEB atípica, a Suíça um caso importado e, o Brasil notificou um diagnostico de encefalopatia atípica num bovino de 13 anos de idade. No Brasil, o caso foi detectado pelo sistema de vigilância ativa, que realiza investigação laboratorial para EEB em todos os bovinos encontrados mortos.
Em 2013, na União Europeia, ocorreram sete casos de EEB atípica, em quatro países (dois na França (tipo H), um na Irlanda, um na Polônia e três no Reino Unido). Em 2014, a Alemanha até o mês de abril identificou dois casos de EEB atípica (tipos L e H).
Todos os casos da forma atípica da doença, à exceção do caso de um bovino com 23 meses, no Japão, foram detectados em animais com mais de oito anos de idade. Este achado sugere que a ocorrência destas estirpes não está restrita a uma área geográfica ou a uma raça específica e, sim representa uma forma esporádica da doença, como acontece com a Doença de Creutzfeldt-Jakob- CJD nos humanos.
O conceito do Brasil na vigilância ativa em EEB.
O Serviço Veterinário brasileiro apresenta preocupação com a EEB expressada na institucionalização de legislações anteriores à alocação da doença no Código Sanitário Internacional e suas legislações foram mantidas atualizadas O Brasil possui uma cartilha de excelente qualidade sobre a doença em seus diferentes aspectos- MAPA- Encefalopatia Espongiforme Bovina- EEB- Doença da Vaca Louca, Brasília, 2008. Esta cartilha oferece as orientações sobre os diferentes aspectos da doença.
A Saúde Pública não é desprezada existindo um caderno técnico da ANVISA denominado- Encefalopatia Espongiforme Bovina de autoria de Costa, L.M.C e Borges, J.R. J.
A OIE reconhece o trabalho desenvolvido pelo Brasil. Este fato ficou consolidado na manutenção da condição de risco insignificante após o caso ocorrido no Paraná que resultou da seriedade da intensa vigilância desenvolvida.
Conclusão
Formas atípicas:
Durante muitos anos foi convicção da comunidade científica que a EEB apresentava características bioquímicas e neuropatológicas uniformes em todos os casos confirmados (EEB clássica), independentemente da origem, idade ou raça dos animais afetados.
A Introdução da vigilância ativa em vários países resultou na identificação de novas formas esporádicas da EEB. A detecção, em 2004, dos primeiros fenótipos atípicos da doença em animais idosos veio confirmar as suspeitas. Foram, então, descobertas duas novas formas da EEB.
a) L-type (EEB-L) – também designada por BASE caracteriza-se por uma maior deposição de PrPres no lóbulo frontal do cérebro, e não no tronco cerebral, como acontece na forma clássica (C-type). Além disso, esta deposição apresenta um padrão diferente, designado por placas amilóides. Este tipo de EEB apresenta um peso molecular menor da forma não glicosada, daí a sua designação (L de low).
b) H-type (EEB-H) – esta estirpe caracteriza-se por uma maior massa molecular da forma não glicosada (designação H de high), sendo que o seu padrão de deposição é menos intenso, intraneuronal e intraglial, ao contrário da forma clássica, em que se observa um padrão de deposição concentrado e maioritariamente granular e linear.
O caso atípico da EEB notificado pelo Brasil em 2012 demonstrou que foi seguido o Procedimento Operacional Padrão - SDA/MAPA/OIE, que esclareceu que não houve nenhum achado semelhante nos últimos dois anos e que não houve nenhuma compatibilidade com o caso clássico da EEB. Acima de tudo, o Brasil seguiu todos os protocolos nacionais e internacionais. A OIE inclusive publicou em suas páginas um questionário simples sobre o caso ocorrido no Brasil, no qual esclarecia que a carne desossada não oferece risco aos consumidores.
Estes fatores fizeram com que o Brasil fosse mantido no Status de risco insignificante pela OIE.
Devido à qualidade do sistema de vigilância para EEB existente no Brasil, acreditamos que a mesma posição adotada pela OIE em 2012, será a do caso atual, inclusive considerando que esta classificação ocorre com outros países que detectaram no sistema de vigilância a forma atípica. Dentre estes países encontram-se os Estados Unidos.
São necessários maiores estudos referentes a forma atípica de EEB, porem julgamos que, os estudos até aqui desenvolvidos demonstram que se trata de uma manifestação esporádica de caráter degenerativo que ocorre em animais idosos. Estes aspectos sugerem que a Comissão Cientifica classifique esta forma de apresentação como uma “Encefalopatia Espongiforme Relacionada à idade”- EERI e, que não fosse designada EEB ( sugestão nossa). Não seria classificada no grupo das Encefalopatias Espongiformes Transmissíveis- EETs.
Tania Maria de Paula Lyra
Consultora em Defesa Sanitária
61- 8163 8882
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