11/03/2013

Brasil vendeu 2,4 mil toneladas de carne de cavalo em 2012


O recente escândalo da carne de cavalo em lugar da bovina em alimentos prontos vendidos na Europa — que respingou no frigorífico brasileiro JBS, fornecedor da Nestlé — jogou luz sobre o mercado de carne equina, no qual o Brasil vem perdendo espaço. Segundo dados do Ministério da Agricultura, as exportações brasileiras passaram de US$ 34,1 milhões e 19.100 toneladas, em 2005, para US$ 6,772 milhões e 2.375 mil toneladas no ano passado.

A carne vai, basicamente, para França, Itália, Bélgica e Japão. O total de frigoríficos autorizados no abate de equídeos — que, além de equinos, inclui muares (mulas) e asininos (asnos) — passou de sete para apenas três: um em Minas Gerais, um no Rio Grande do Sul e um no Paraná.


— Já chegamos a abater cinco mil cabeças de equinos por mês há quatro anos, agora só abatemos 800 por mês — diz Gilson dos Santos, diretor financeiro do Frigorífico Mississipi, em Apucarana (PR).


O mercado de carne de equídeos ficou mais escasso devido à falta de rebanho. Como não há criação específica de cavalos para o abate, conta, eles dependem da demanda de descarte, quando animais não são mais aproveitados para outras funções ou quando se desiste de amansar determinados cavalos.


Santos diz que toda a produção se destina à exportação. Embora a questão do preço pese — a carne de cavalo sai do frigorífico a US$ 3 o quilo, contra, no mínimo, US$ 5 da carne bovina —, há outros fatores.

— A criação do cavalo é mais natural que a de bovinos confinados. E em diversos países, sobretudo na Europa, a carne de cavalo é uma iguaria — diz Santos.

Na segunda-feira, a Nestlé anunciou a retirada, das prateleiras de supermercados de Itália, Espanha e França, de vários pratos prontos nos quais foi encontrada carne de cavalo. No Reino Unido, porém, os exames deram negativo. A JBS Toledo, subsidiária da brasileira, comprava a carne que fornecia à Nestlé da empresa H.J. Schypke.

Bife a cavalo era de... cavalo

No Brasil, não há a cultura de comer carne equina, apesar de o clássico bife a cavalo (filé com ovo estrelado em cima) ser, originalmente, feito com o próprio. O steak tartare era feito com a carne de equídeos, temperinhos e um ovo cru.

Tempos depois, ganhou a versão frita. E o ovo foi mantido, só que estrelado. A maioria dos brasileiros resiste ao consumo da carne, mesmo em viagens pela Europa ou Ásia, onde esta é largamente servida.

Só que a maioria dos embutidos servidos mundo afora leva carne de cavalo em sua composição. Isso porque ela proporciona um paladar mais ativo e uma coloração mais forte, explica o gaúcho Roger Magalhães, sócio do Esplanada Grill.


— Acho que os brasileiros ainda não estão preparados para provar carne de cavalo. É uma questão cultural. As pessoas viram o olho quando falamos nisso por aqui — diz Lilian Seldin, sócia da pousada e restaurante Locanda Della Mimosa, em Petrópolis.



Fonte: http://extra.globo.com/noticias/economia/brasil-vendeu-24-mil-toneladas-de-carne-de-cavalo-em-2012-7625384.html#ixzz2NEuDOoZm

BIFE A CAVALO

OS EUROPEUS COMPRAM PRODUTOS FEITOS COM CARNE EQUINA COMO SE FOSSE DE BOI E SE REVOLTAM COM O DESCASO DAS AUTORIDADES.


(...) Na II Guerra, quando porcos e bois se tornaram escassos nos Estados Unidos, a carne do animal passou a ser um item frequente  da dieta. Quando respeitadas as normas sanitárias, não há riscos para a saúde humana. Nas últimas semanas, porém, a venda de hambúrgueres, lasanhas e espaguetes à bolonhesa preparados com carne de cavalo deu origem a um escândalo na Europa. Esses produtos foram retirados às pressas de supermercados da Irlanda, Inglaterra, França e Alemanha, porque estavam sendo vendidos como se fosse feitos  de carne de gado. A fraude foi descoberta por meio de exames de DNA. 

Em muitos países ocidentais, mandar um cavalo para o matadouro ainda desperta compaixão do que matar um boi ou uma vaca. Os cavalos abatidos em geral são os velhos, sem serventia para a tração ou para o transporte. No Brasil, o 8º maior exportador dessa carne, pagam-se entre 200 e 300 reais por um equino de corte. O preço baixo foi o que provavelmente levou as indústrias europeias a usar a carne de cavalo, enganando os consumidores. Um dos países onde mais houve revolta com a trapaça foi a Inglaterra, mas também se vendeu gato por lebre- ou melhor, cavalo por boi- em outras catorze nações da Europa. Na quarta-feira passada, a Comissão Europeia (CE) pediu a todos os países do bloco que fizessem testes de DNA por amostragem em derivados bovinos para identificar se havia carne de cavalo na composição.

A complexa cadeia de produção dos alimentos feitos com carne moída,  porém, dificulta bastante o controle. Não se sabe com certeza nem em que fase do processo a carne de cavalo se tornou ingrediente dos alimentos industrializados. A rede de supermercados Tesco, da Inglaterra, alegou ter sido enganada por seu fornecedor, a Comigel, uma empresa francesa. A Comigel, por sua vez, se disse enganada pelos matadouros franceses. Já a francesa Spanghero afirma ter recebido a carne suspeita de  um matadouro na Romênia, que, claro, nega ter burlado qualquer regra. A polícia inglesa prendeu três pessoas envolvidas na fraude.

Fonte: Revista VEJA, 20 de fevereiro, 2013