28/11/2012

AMVERJ- SOLENIDADE ALERJ EM HOMENAGEM AOS ACADÊMICOS- 12/09/2012

Solenidade realizada na ALERJ no dia 12/09/2012 onde na ocasião o CRMV-RJ homenageou três médicos veterinários com o Título Honra ao Médico Veterinário e a AMVERJ homenageou os Membros Honorário, Benemérito, Eméritos e aos Acadêmicos Titulares Recém Empossados.







06/11/2012

Um pioneiro da veterinária paranaense

No correr do século XIX, muitos europeus vieram se fixar no Paraná e todos contribuíram para a construção de nossa identidade. Geralmente esses novos habitantes se dedicavam à agropecuária, eram artesãos e traziam na sua bagagem conhecimentos mais apurados usados para trabalhar a pedra, a madeira, o vidro e o ferro.

Erguiam casas com linhas semelhantes às de seus países de origem, abriam estradas e introduziam novidades na culinária, nas vestimentas, e até nos jardins. Entretanto, muitos chegaram com elevado nível cultural, artístico ou profissional, abrindo novos horizontes através de sua atividade. Um exemplo foi o dr. Constantino Stroppa: nascido em Piacenza em 1864, estudou Medicina Veterinária em Milão e chegou a Curitiba no final do século XIX. Segundo seus familiares, ele teria vindo a convite do Senhor Santiago Colle que estava à frente de uma empresa privada, a Ferro Carril Curitibana, concessionária do transporte coletivo feito com bondes de tração animal. Nesta  empresa, dr. Constantino zelava pelas boas condições de saúde das mulas que faziam a tração dos bondes.

Os bondes começaram a circular em 7 de novembro de 1887 e passaram a ser administrados pelo senhor Santiago Colle em 1895. Pelos relatos da época, os bondes fizeram um grande sucesso. havia bondes de passageiros, alguns especiais para o transporte de cargas- inclusive as barricas de erva-mate- transporte de mala-postal e o bonde da carne- que trazia a carne do matadouro. Para o atendimento de todas essas opções a firma chegou a contar com 150 mulas.

Chegando a Curitiba, dr. Constantino se adaptou à terra, naturalizou-se brasileiro e entrou para o exército nacional. Nessa época não tínhamos Escolas de Veterinária no Brasil, então dr. Constantino, mas, segundo os registros a que tivemos acesso, prestava serviços como veterinário. Muito antes de ser criado o Serviço de Veterinário do Exército, dr. Constantino Stroppa já havia firmado um contrato para atuar como veterinário no 8º Regimento de Cavalaria, Justamente, este contrato foi aprovado em 27 de junho de 1892, portanto três anos antes de ser transferida a concessão dos bondes ao senhor Santiago Colle.

Sabe-se que sua atuação no Exército foi marcante. Os conhecimentos do veterinário italiano foram decisivos para debelar um surto de febre aftosa em Ponta Grossa, orientou os trabalhos de remonta e esteve em Santa Catarina, estudando uma epidemia. Passou também um longo período em Guarapuava, cumprindo um programa determinado pelo Exército. Encontrei, no acervo de meu pai, duas de suas publicações- datadas de 1911- com dedicatória de um de seus filhos, em 10 de março de 1951. Foram essas publicações que despertaram meu interesse e a primeira ponta da meada surgiu quando descobri, casualmente, que um de seus netos era nosso amigo dr. Constantino Viaro. Por sua indicação, cheguei a uma outra neta, a professora Odette Fruet. Com base nos dados fornecidos por esses netos, fui ampliando as pesquisas chegando, inclusive, ao Arquivo do Exército, no Rio de Janeiro.

Um outro aspecto inovador foi seu trabalho na Prefeitura de Curitiba, onde foi o primeiro "veterinário encarregado de fiscalizar a matança do gado no matadouro e o destinado a xarqueadas". O cargo foi criado em 31 de julho de 1912 e a nomeação ocorreu em 1º de setembro do mesmo ano. Iniciava-se, então, a inspeção de carnes em Curitiba,  beneficiando a população que passou a consumir um produto com padrão sanitário controlado.

A integração do dr. Constantino à sua nova pátria ficou mais perfeita quando se casou, em 1901, com Emília Gironda Fruet, também italiana, de Verona. Ela era uma jovem viúva, com filhos que receberam do novo pai muito carinho e orientação. Desse casamento surgiram mais quatro filhos. Os filhos e seus dependentes guardaram as histórias do veterinário pioneiro, que trouxe para a pequena Curitiba no século XIX seus conhecimentos técnico- científicos e hábitos de homem culto. A família Stroppa morou muitos anos na esquina da Rua Comendador Araújo com Angelo Sampaio; com as mudanças da cidade, o imóvel teve diferentes ocupações e hoje abriga um restaurante japonês. O antigo quartel acabou virando um shopping...

Dr. Constantino Stroppa faleceu prematuramente em 23 de outubro de 1914. Sem dúvida, sua permanência em Curitiba contribuiu para alargar a nossa visão cultural, melhorar a qualidade de vida e as condições sanitárias desta Curitiba que ele adotou ao se nacionalizar e onde continua vivo através de seus descendentes e de sua bela história de vida. Seu nome dado a um simpático Jardinete no Jardim Botânico é um preito a memória de um homem digno e um profissional competente. A vereadora dra. Nely Almeida, assim como os demais integrantes de nossa Câmara Municipal demonstraram sensibilidade e senso de justiça ao acolher essa proposição.


CLOTILDE DE LOURDES BRANCO GERMINIANI
É PROFESSORA TITULAR (APOSENTADA) DA UFPR
MEMBRO DO CENTRO DE LETRAS DO PARANÁ
MEMBRO DA ACADEMIA PARANAENSE DE  MEDICINA VETERINÁRIA
MEMBRO DO INSTITUTO HISTÓRICO E GEOGRÁFICO DO PARANÁ
MEMBRO DA ACADEMIA  BRASILEIRA DE MEDICINA VETERINÁRIA